Não obstante, minha maior
dificuldade não é em relação a que itens são realmente ou não necessários, mas
está em relação a se fazer um enxoval neutro. Lembro muito bem que na época da
minha mãe e das minhas tias elas não sabiam o sexo dos seus bebês até o
nascimento. Faziam os enxovais neutros, que tanto serviriam a um menino ou uma
menina, e ainda poderia ser repassado para o próximo herdeiro.
A sociedade de consumo nos estimula
e insita a consumir constantemente, e, muitas vezes, nem conseguimos pensar
sobre o que estamos fazendo. Apenas reproduzimos um comportamento já
institucionalizado na sociedade. Repetimos frases como: “Todo mundo faz.” ou “As
coisas são assim mesmo” entre outras.
Antes de ficar grávida sempre
pensei em fazer um enxoval neutro, afinal são muitos os itens de gastos com uma
criança e eu e meu marido priorizamos bens duráveis, tal como a educação e
investimento em cultura, por exemplo. Também sempre pensamos em termos mais de
um filho, e gastar uma fortuna para cada filho, personalizando tudo relacionado
ao sexo de cada um não estava em nossos planos.
Ao ficar grávida me deparei com uma
novidade os enxovais neutros estão em extinção. Tudo é muito dividido entre
rosa e azul. Principalmente os itens mais caros, como carrinhos, bebê conforto,
os bendito kit berços, etc. como também itens mais simples como as roupinhas,
brinquedinhos... Ainda que você encontre uma roupa linda em amarelo, laranja,
verde ou vermelho, elas vem com detalhes do mundo masculino ou feminino, que
deixam claro para quem se destinam. Assim, você pode até comprar uma banheira
laranja, mas ela virá com florzinhas, borboletinhas e laçinhos que deixam claro
a referência ao mundo feminino.
Estou grávida de pouco mais de 5
meses e desde o início senti essa dificuldade. Ao ir às lojas nos primeiros
meses e pesquisar itens grandes como berço, cômoda, carrinho, banheira, etc. a
primeira pergunta que as vendedoras me faziam era “É menino ou menina?”. Na
hora me subia uma raiva. Eu sempre respondia quero neutro, para aproveitar para
o próximo filho. E então, a vendedora me olhava com uma cara estranha como se
eu estivesse falando alguma bobagem.
Continuando minhas andanças e
pesquisas, pelo mundo das compras de bebê, percebi que essa não era uma posição
só das vendedoras, mas também dos fabricantes. Recentemente descobri até que algumas
marcas só produzem produtos rosas e azuis. Mas, fala sério, num universo de
cores tão lindas e variáveis, porque temos que nos restringir a essas duas
cores? Quem foi mesmo que escolheu o rosa para as mulheres e o azul para os
homens?
Alguém pode dizer, mas você como
psicóloga não deveria ter problema em comprar coisas rosas para meninos e azuis
para meninas. Poderia te responder que eu não tenho, até porque quando
crescemos usamos roupas de todas as cores, podemos exercer qualquer
profissão... apesar de ainda termos muitos problemas sobre o que cabe ao homem
e ao mulher profissionalmente. Todavia, não vou criar meu filho numa bolha ou
rodeado apenas por pessoas digamos... de mente mais aberta. Tenho certeza de
que se colocasse meu filho todo numa roupa rosa, numa banheira rosa, num quarto
rosa, as pessoas estranhariam e muito. Afinal, é natural que esperemos esse
tipo de comportamento.
Você pode ir contra isso, mas
pagará o preço por ser diferente. Pagarei e ajudarei meu filho ou filha a pagar
quando ele se interessar, por exemplo, por poesia, por brincar de família e não
com monstros destruidores. E se um dia tiver uma menina, se ela quiser ir para
o kart com o pai, quiser brincar de super heróis, etc. também vou ajudá-la a
pagar o preço de ser diferente. Mas, por agora, enquanto bebê, não quero criar
tantas polêmicas, só algumas....
Sempre me perguntei por que tanto
rosa e azul, e hoje vejo que nós pais temos poucas opções realmente, pois os
fabricantes muitas vezes não nos dão essa opção. O interessante numa sociedade
capitalista é que a cada filho você compre tudo novo de novo. E resistir a essa
tendência é extremamente estressante, desgastante, porque você realmente está
nadando contra a maré. Você tem que pesquisar mais, procurar mais lojas, mais
opções, e tudo isso num momento que você não dispõe de 100% da sua bateria de
energia.
Outra dificuldade que percebi é que
alguns itens como os benditos kit berços quando são de temas ou cores neutras
tendem a ser mais caros, do que aqueles que já deixam bem claro se naquele
berço dormirá um garoto ou uma garota. Se você quiser um kit berço diferente
então... pode se desdobrar para procurar e pagar. Já que os mais em conta são
os de temas já bem conhecidos no mundo dos bebês e nas cores tradicionais. Os
personalizados saem do modo como você quer, mas talvez não no item bolso....
Enfim... no próximo post contarei
um pouco da saga sobre a compra do meu kit berço. Mas, já confesso que tentar
não sucumbir às tentações do consumismo é uma tarefa bem difícil, afinal você
quer tudo do melhor e mais lindo para o seu pequeno. Porém, temos que ter em
nossas mentes que o melhor e mais lindo para o nosso filho sempre será o tempo,
o amor e o cuidado que dedicamos a ele.
Abraços do centro oeste,
Vanessa Nascimento
Abraços do centro oeste,
Vanessa Nascimento