Aqui
no Ceará essa expressão é algo equivalente a: “Ouw o
pobrezinho”, “o coitadinho”, etc... e confesso que me “dá
nos nervos.”
Pensei
neste assunto na sexta-feira a noite quando o seguinte fato foi
relatado pela minha pequena:
Nadine
levou uma boneca para a escola, mas não quis emprestar pra amiga que
ficou chateada e disse que não queria mais ser amiga da Nadine que
ficou triste por "perder" a amiga.
Depois
de eu conversar e explicar que os amigos as vezes ficam chateados com
a gente, mas que dá pra fazer as pazes, desde que ambos saibam
compartilhar suas coisas.
Solução
encontrada pela Nadine:
-
Então vou chamar a Maria Luiza aqui em casa pra ela brincar com
todos os meus brinquedos.
Do episódio relatado, embora a lição sobre compartilhar os
brinquedos seja importante, não foi a que mais me chamou atenção. E
sim a questão do sentimento.
Não foi assim "de pronto" que ela contou a história... Ela começou com uma carinha triste e a frase: "A Maria Luiza nem que mais ser minha amiga". Coube a mim investigar e entender o que tinha acontecido.
Se para muitos adultos não é fácil entender quando alguém diz que
não quer ser seu amigo (mesmo que esse comunicação seja por meio
de atitudes, e não verbal) imagine para uma pessoinha que acabou de
fazer 3 anos?
Por favor não me venham com um: Ouw... a bichinha... Claro que
nenhuma mãe quer que seu filho sofra nem fisicamente e nem
emocionalmente, mas essas vivências são necessárias para o
desenvolvimento do pequeno como ser humano.
Muitas vezes vejo mães tomando à frente e resolvendo os conflitos
de relacionamento naturais entre as crianças, como por exemplo uma
disputa por um brinquedo. Para que o “bichinho” não sofra a mãe
vai lá e resolve por ele. Assim muitas crianças estão crescendo
sem terem conhecimento do que é frustração, desapontamento,
tristeza, melancolia. (Por sinal conheço alguns adultos que não
sabem a diferença entre os 4 sentimentos que escrevi, nomeiam todos
como “depressão”).
No entanto essa “proteção” toda acaba sendo mais prejudicial
para a própria criança. O mundo não acha que ele é um
“coitadinho”, as pessoas não vão tratá-lo como “o bichinho”.
Como atendo mães de diversas classes sociais e níveis de
escolaridade gosto de ilustrar essa situação como o seguinte
exemplo:
Imagine que você tem que aprender a lavar roupa, para começar você
lava primeiro as peças íntimas (menores e com tecidos mais finos),
depois passa para as camisetas, shorts, etc. Assim gradativamente você vai aprendendo a lidar com as dificuldades que vão surgindo.
Agora imagine que sua mãe não deixou que você lavasse nada, para
que você não sofresse. O problema é que quando você cresce a vida
exige que você saiba “lavar” e você vai ter que aprender
começando por uma cortina de 2 metros (ou uma rede, pra quem é
nordestino).
Se sempre que seu filho discute com um amiguinho, você vai lá
interceder por ele, negociar no lugar dele, como ele vai lidar com a
frustração de receber um fora da namorada, ou for demitido de um
emprego? Certamente irá ser uma dor bem maior, já que ele nunca
teve a oportunidade de senti-la numa gradação menor. É como dar uma "vacina"... a injeção dói (as vezes mais na mãe que na criança), mas a mãe sabe que é para o bem do seu pequeno.
Ah!...Voltando
à história da Nadine na segunda-feira elas não mais se lembravam
que estavam "de mal" e continuaram amigas :)
Cristine Cabral
Me fez refletir muito!
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