Nós vivemos numa
sociedade punitiva. Isso é um fato. Exemplo: a pessoa passa o ano
inteiro chegando cedo, saindo depois da hora, mas se chega um dia,
uma horinha atrasada (não importa o motivo) é chamada atenção,
talvez até tenha algum desconto no salário.
Nosso trânsito (aqui
em Fortaleza (CE), pelo menos) é um problema. Além das questões de
planejamento, de investimento no transporte público, do consumismo, considero que deve ser levado em conta também a educação com base na punição. É
incrível a quantidade de carros estacionados em local proibido. É
como se todo mundo pensasse: “Se não tem ninguém pra me multar,
então posso fazer.” O pensamento: “Será que estarei
atrapalhando muita gente?” fica em segundo plano, ou nem ao menos é
cogitado.
Essa é uma possível
consequência de uma educação baseada na punição. A pessoa não
aprende o certo e o errado, não pensa se vai ou não prejudicar
alguém, só pensa se será capaz e como fará para escapar da
punição.
A 1ª lembrança que
tenho de que fiquei de castigo (provavelmente devo ter ficado várias
vezes antes disso, mas esta é a minha primeira lembrança) foi ficar
sem assistir TV. Nessa época minha mãe tinha um salão de beleza de
“fundo de quintal” e era o lugar mais longe da TV. Achei ótimo
ficar lá, ouvindo as conversas das clientes e manicures. E vi que
ficar sem TV não era tão ruim assim.
A proporção que fui
crescendo os castigos foram variando, mas sempre encontrava uma forma
de me adaptar e acabava encontrando uma forma de me sentir bem. Os
principais motivos dos meus castigos eram minhas constantes notas
baixas (detalhe: reprovei a 7ª e também a 8ª séries do antigo 1º
grau maior (é o novo!? (risos)) e o fato de nunca arrumar o quarto.
Imagino como deve ter
sido frustrante para a minha mãe não conseguir com que eu fizesse o
que ela queria. Sei que ela fez o melhor que sabia, afinal não fez
uso das cordas, cintos e colheres de pau dos quais ela mesma foi
vítima.
Antes que comece a
gerar uma crise geral de culpa (principalmente na D. Marizete,
(risos)). Uma coisa deve ficar bem clara. A consequência da punição
tem mais a ver com os pensamentos e sentimentos de cada filho do que na escolha do castigo a ser aplicado.
Serei mais clara: o
fato de conseguir me adaptar às situações adversas desenvolveu em
mim, o que nós comportamentais, chamamos de variabilidade
comportamental. Ou seja, consigo encontrar outro caminho para
conseguir o que quero, ou consigo mudar de foco (encontro
reforçadores equivalentes) muito facilmente. Por mais “terrível”
que pareça a situação, logo encontro uma ótima saída.
Então: o que minha mãe
fez acabou fazendo com que eu desenvolvesse uma característica muito
mais útil e satisfatória para minha vida como um todo. O gosto
pelos estudos acabei desenvolvendo naturalmente quando cheguei na
Psicologia e vi assuntos que realmente me interessavam. Quanto ao
quarto, é bagunçado até hoje. Mas quem liga? (risos)
No entanto, tudo isso é
como EU lidei. Certamente meus irmãos tiveram sentimentos e
pensamentos bem diferentes dos meus, ou não (?). Mas acredito que
sim, já que as escolhas e os gostos de ambos são diferentes na
maioria das vezes.
Mas e então? Se não é
pra por de castigo, se não pode dar palmada, o que eu faço
agora?????
Dê atenção ao
CERTO!!!
Quando seu filho fizer
qualquer coisa que ele se orgulhar e que vier lhe mostrar, esteja
disponível para um lindo elogio. Nada mais frustrante que chegar
para mostrar um 10 em matemática e ouvir um: “Você não fez mais
que a sua obrigação”. Quando os irmãos, que vivem em pé de
guerra, estiverem brincando juntos, pare o que está fazendo e vá
até lá dar um beijo em cada um e diga como você fica feliz em ver
os irmãos unidos.
Não é por que a nossa
sociedade é punitiva, que isso deva ser perpetuado. Nossa sociedade
acaba que valoriza muito o erro, enquanto o acerto “não é mais
que a sua obrigação”.
Quem não gosta de
elogio? Quem não erra? Alguém aqui conseguiu andar, sem cair,
aprendeu a escrever sem usar a borracha? O erro faz parte da
aprendizagem. E não deve ser carregado de culpa e sim corrigido para
que não se repita... quantas vezes forem necessárias. E sim,
algumas vezes a punição poderá ser usada, dependendo do caso.
Porém deve ser a exceção e não a regra.
Que "mundo" você está carregando? |
Já errei muito e ainda
vou errar, inclusive no papel de mãe, mas todas nós mães (e pais
também) temos que colocar na cabeça que ninguém é 100%
responsável pela felicidade ou infelicidade dos filhos... isso
depende mais dos sentimentos e escolhas de cada um deles.
Então mãezinhas, que
tal dar umas férias à culpa? Que tal treinar o seu olhar para as
coisas boas? Não só as que seu filho faz, mas também as que VOCÊ
faz, o maridinho faz e seja lá quem mais está do seu lado faz.
Se não gostou, se viu
algo errado, fique a vontade para fazer suas colocações. E se
gostou do texto, que tal um elogio, ãh? (risos)
Cristine Cabral
Amiga, parabéns pelo Blog e isso não é apenas um reforço, rsrsrs, mas sempre te disse e volto aqui para dizer para todos, admiro-te muito com mãe. E vc tem me ensinado muito! Parabéns!!!
ResponderExcluirNós aprendemos uma com a outra :)
ExcluirAfinal os primeiros passos na Análise do Comportamento que dei foi contigo.
Obrigada pelo SR+ ;)
Curti demais o texto, sempre acho que educar é uma questão mais de inteligência emocional do que de esforço físico. É sempre bom enxergar o outro sem medo e sem culpa, principalmente quando esse outro é seu filho. Vejo muitos pais com medo de suas próprias crias, têm medo que o menino chore, que caia, que diga que não ama os pais, que não consiga executar uma tarefa, que não passe no vestibular, entre outras questões. No final, muitas vezes acho que estamos todos desaprendendo a lidar com as frustrações e isso é muito perigoso. A frustração nos ensina a controlar a raiva, a conviver com as diferenças, a improvisar novas soluções de vida. É tão bom quando a gente aprende que a vida é feita de perdas e ganhos, nada mais. E, principalmente, que a felicidade é uma questão de escolha pessoal, nós não somos a fonte de felicidade do outro, assim como o outro não é a nossa fonte de felicidade. Creio que nosso papel enquanto pais é educar os filhos para um convívio social harmônico, dar uma consciência de responsabilidade quanto aos atos praticados no decorrer da vida. Nós decidimos o que vamos fazer com a nossa própria história, isso vale para pais e filhos. Existe vida sem drama, sem precisar que o mundo acabe porque hoje ou amanhã pode ser um dia de tristeza.
ResponderExcluirMuito obrigada pela participação. Seu comentário complementou perfeitamente o post.
ExcluirVolte sempre ^.^