sábado, 11 de junho de 2016

"Mãe, tem um menino apaixonado por mim."



E eis que aos 6 anos de idade a rotina da minha filha passa a ser alterada pela "paixão" de um menino.
Não estou preocupada, nem com ciúmes, mas como não deixo nada passar sem antes analisar sob alguns aspectos, vamos lá:
- Mãe, o menino do 1o. ano F passa o recreio me seguindo, o tempo todo me olhando e eu não gosto disso.
Como não há qualquer invasão do espaço dela, não vou tomar qualquer atitude, as vivências são mais pedagógicas do que qualquer lição. E não há qualquer necessidade (até o momento) de "salvar" minha filha.
A primeira coisa que me veio a cabeça foi que algum adulto deve ter dito "Se você gosta dela, vai atrás." Se não disseram diretamente para ele, é muito provável que tenha ouvido essa frase na fala dos adultos, se referindo como a forma como os homens devem se comportar quando gostam de alguma mulher. Porém o pensamento de crianças nessa fase é puramente concreto, logo, "ir atrás" foi entendido de forma literal e assim ele passou a segui-la durante o recreio.
O que respondi ao comentário dela foi:
- O que você pode fazer é ir falar com ele e pedir por favor que pare de lhe seguir porque você não gosta.
O que ela fez no outro dia, mas que semanas depois ela veio me dizer que não adiantou nada, que onde ela está ele fica por perto, sempre olhando para ela.
Em tempos de debates sobre "Cultura do Estupro" (não entrarei nesse mérito aqui) fico pensando sobre as diferenças na educação com foco nas diferenças de gênero. 
Ao mesmo tempo em que esse menino se comporta assim com a minha filha, três amiguinhas dela estão "apaixonadas", mas o comportamento delas é de querer manter segredo e continuam tratando seus "amores" da mesma forma que tratam todos os outros amigos.
Não acredito na ideia de que tais comportamentos são inerentes ou instintivos de cada gênero, acredito que são reprodução da cultura na qual estas crianças estão sendo educadas. Por isso que dedico tanto tempo em observar e analisar cada pequeno comportamento.
Na prática não farei nada, mas não custa deixar o alerta aqui. Principalmente para as mães de meninos, para que procurem educá-los com menos machismo, que caso eles gostem de alguma menina, não digam "Vá atrás", digam "Converse com ela e veja se ela sente o mesmo." Mesmo por que imagino que não deva ser legal para esse menininho gostar da minha filha, admirá-la tanto e não ser correspondido. Já seria tempo de ele aprender que quando uma menina diz não, significa que ela não gosta dele, pelo menos não na mesma intensidade. Com uma conversa ele poderia encerrar essa "conquista" e se conformar e passar para uma outra possibilidade e quem sabe ser correspondido. Diminuiria o sofrimento dele e o incômodo dela.
Particularmente não gosto dessa conversa de namoro nessa fase. Embora sabia que é algo puro e inocente, encaro como sofrimento desnecessário para a idade. Pois quando se tem 6 anos, dificilmente alguém tem a sorte de gostar de alguém da mesma forma e intensidade, principalmente dentro de uma cultura onde meninos e meninas são educados de formas tão diferentes. 
A minha fala aqui em casa é "Criança não namora." Vejo isso também como prevenção contra pedófilos que muitas vezes seduzem se dizendo namorados apaixonados.
Por fim o que posso dizer é que é preciso ter tempo para ouvir o que suas crianças têm a dizer. É preciso atenção para o que se passa na vidinha deles. Pois o que parece bobagem para um adulto, pode ser a coisa mais importante que está acontecendo com eles no momento. E a forma como eles lidarão, poderá ser determinante para decisões futuras, quando a coisa for realmente "pra valer".

Cristine Cabral