sábado, 12 de outubro de 2013

A dificuldade em se fazer um enxoval neutro

                 Desde muito antes de engravidar sempre tive em mente o quanto o mundo dos bebês nos solicita a consumir, e muitas vezes sem necessidade alguma. É claro que a criança precisa de vários itens, mas muitos dos itens que compõem aquelas listas de enxoval que nos são entregue nas lojas, são supérfluos e desnecessários se analisarmos com um pouco mais de cuidado.
Não obstante, minha maior dificuldade não é em relação a que itens são realmente ou não necessários, mas está em relação a se fazer um enxoval neutro. Lembro muito bem que na época da minha mãe e das minhas tias elas não sabiam o sexo dos seus bebês até o nascimento. Faziam os enxovais neutros, que tanto serviriam a um menino ou uma menina, e ainda poderia ser repassado para o próximo herdeiro.
A sociedade de consumo nos estimula e insita a consumir constantemente, e, muitas vezes, nem conseguimos pensar sobre o que estamos fazendo. Apenas reproduzimos um comportamento já institucionalizado na sociedade. Repetimos frases como: “Todo mundo faz.” ou “As coisas são assim mesmo” entre outras.
Antes de ficar grávida sempre pensei em fazer um enxoval neutro, afinal são muitos os itens de gastos com uma criança e eu e meu marido priorizamos bens duráveis, tal como a educação e investimento em cultura, por exemplo. Também sempre pensamos em termos mais de um filho, e gastar uma fortuna para cada filho, personalizando tudo relacionado ao sexo de cada um não estava em nossos planos.
Ao ficar grávida me deparei com uma novidade os enxovais neutros estão em extinção. Tudo é muito dividido entre rosa e azul. Principalmente os itens mais caros, como carrinhos, bebê conforto, os bendito kit berços, etc. como também itens mais simples como as roupinhas, brinquedinhos... Ainda que você encontre uma roupa linda em amarelo, laranja, verde ou vermelho, elas vem com detalhes do mundo masculino ou feminino, que deixam claro para quem se destinam. Assim, você pode até comprar uma banheira laranja, mas ela virá com florzinhas, borboletinhas e laçinhos que deixam claro a referência ao mundo feminino.
Estou grávida de pouco mais de 5 meses e desde o início senti essa dificuldade. Ao ir às lojas nos primeiros meses e pesquisar itens grandes como berço, cômoda, carrinho, banheira, etc. a primeira pergunta que as vendedoras me faziam era “É menino ou menina?”. Na hora me subia uma raiva. Eu sempre respondia quero neutro, para aproveitar para o próximo filho. E então, a vendedora me olhava com uma cara estranha como se eu estivesse falando alguma bobagem.
Continuando minhas andanças e pesquisas, pelo mundo das compras de bebê, percebi que essa não era uma posição só das vendedoras, mas também dos fabricantes. Recentemente descobri até que algumas marcas só produzem produtos rosas e azuis. Mas, fala sério, num universo de cores tão lindas e variáveis, porque temos que nos restringir a essas duas cores? Quem foi mesmo que escolheu o rosa para as mulheres e o azul para os homens?
Alguém pode dizer, mas você como psicóloga não deveria ter problema em comprar coisas rosas para meninos e azuis para meninas. Poderia te responder que eu não tenho, até porque quando crescemos usamos roupas de todas as cores, podemos exercer qualquer profissão... apesar de ainda termos muitos problemas sobre o que cabe ao homem e ao mulher profissionalmente. Todavia, não vou criar meu filho numa bolha ou rodeado apenas por pessoas digamos... de mente mais aberta. Tenho certeza de que se colocasse meu filho todo numa roupa rosa, numa banheira rosa, num quarto rosa, as pessoas estranhariam e muito. Afinal, é natural que esperemos esse tipo de comportamento.
Estamos numa sociedade heterodeterminada. Ou seja, que define bem os mundos entre o que é dos homens e das mulheres, o que cabe a um sexo e ao outro. E as roupas e decorações de bebê são apenas o início disso.

Você pode ir contra isso, mas pagará o preço por ser diferente. Pagarei e ajudarei meu filho ou filha a pagar quando ele se interessar, por exemplo, por poesia, por brincar de família e não com monstros destruidores. E se um dia tiver uma menina, se ela quiser ir para o kart com o pai, quiser brincar de super heróis, etc. também vou ajudá-la a pagar o preço de ser diferente. Mas, por agora, enquanto bebê, não quero criar tantas polêmicas, só algumas....
Sempre me perguntei por que tanto rosa e azul, e hoje vejo que nós pais temos poucas opções realmente, pois os fabricantes muitas vezes não nos dão essa opção. O interessante numa sociedade capitalista é que a cada filho você compre tudo novo de novo. E resistir a essa tendência é extremamente estressante, desgastante, porque você realmente está nadando contra a maré. Você tem que pesquisar mais, procurar mais lojas, mais opções, e tudo isso num momento que você não dispõe de 100% da sua bateria de energia.
Outra dificuldade que percebi é que alguns itens como os benditos kit berços quando são de temas ou cores neutras tendem a ser mais caros, do que aqueles que já deixam bem claro se naquele berço dormirá um garoto ou uma garota. Se você quiser um kit berço diferente então... pode se desdobrar para procurar e pagar. Já que os mais em conta são os de temas já bem conhecidos no mundo dos bebês e nas cores tradicionais. Os personalizados saem do modo como você quer, mas talvez não no item bolso....
Enfim... no próximo post contarei um pouco da saga sobre a compra do meu kit berço. Mas, já confesso que tentar não sucumbir às tentações do consumismo é uma tarefa bem difícil, afinal você quer tudo do melhor e mais lindo para o seu pequeno. Porém, temos que ter em nossas mentes que o melhor e mais lindo para o nosso filho sempre será o tempo, o amor e o cuidado que dedicamos a ele.

Abraços do centro oeste,
Vanessa Nascimento

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