domingo, 31 de agosto de 2014

O tempo, o momento, a maternidade e a eternidade

"O tempo é relativo" máxima conhecida por todos, mas nunca essa relatividade é tão intensa quanto quando se tem um filho.

Normalmente contamos o tempo por eventos ou momentos... tempo de espera por um ônibus, pelo fim de semana, pelo fim do ano, pelo fim do curso, etc. Mas ser mãe é uma infinidade de eventos e momentos na qual a relação com o tempo é diferenciada. Rápido e lento se misturam, existem simultaneamente.

Já na gestação essa relatividade é sentida. 9 meses, 40 semanas, 280 dias uma espera interminável. 

Mas quando se para para pensar que tudo começa com apenas 2 células e resulta no milagre da vida e não uma vida qualquer como uma plantinha ou um animalzinho, mas uma pessoa, um ser humano capaz de amar, de aprender qualquer coisa que a humanidade já produziu ou descobriu, capaz de criar o que ainda parece impossível. Menos de um ano parece muito pouco para uma criação de tamanha importância e potencialidade.

Quanto tempo demora um ano para passar? 365 dias? A espera por um carnaval, uma páscoa, um dia das mães, um mês de férias, um dia dos pais, alguns feriados e o ano acaba quando se aproxima o natal... 

O primeiro ano de vida de um bebê é uma vida em um piscar de olhos para uma mãe. Um piscar de olhos com uma coleção de memórias e emoções que parece que muito mais tempo passou.


Se contamos o tempo colecionando conquistas, o primeiro ano de vida é uma eternidade: a primeira vez que segura o pescoço, o primeiro sorriso espontâneo (não-reflexo), a primeira vez que ergue o tronco quando de bruços, a primeira vez que senta, a primeira tentativa de engatinhar, a primeira vez em pé sem ajuda, o primeiro passo, a primeira palavra, mesmo que seja apenas a mesma sílaba repetida, mas com a intenção consciente de comunicação... Fora centenas de historinhas engraçadas, aventuras e sustos. Quantas coisas em tão pouco tempo.

365 dias e um serzinho indefeso, com apenas capacidades reflexas, se torna alguém capaz de andar, falar, se exibir, conquistar atenção e (até certo ponto) manipular um adulto.

Mas existe o contra-ponto, quando a eternidade é o tempo que demora a passar, quando este congela e o ponteiro parece andar para trás. O tempo de um antitérmico fazer efeito, o tempo que leva para o bebê pegar no sono para a mãe finalmente poder descansar e ironicamente, o tempo em que o bebê está dormindo, que por menor que seja, é tempo suficiente para a mãe sentir saudade e torcer para que já acorde.

E se não acorda o tempo é de contemplação. 

Este sim é o momento em que o tempo congela... admirar aquela pessoinha dormindo, olhar cada centímetro do corpo, perceber cada detalhe, cada dobrinha, olhar cada um dos dedos e unhas, sorrir junto quando ele sorri dormindo, observar a respiração, por a mão para sentir aquele coraçãozinho... Sentir um amor imenso, maior que o tempo e o espaço e muitas vezes chorar copiosamente numa mistura de sentimentos: amor, felicidade extrema, ternura, ansiedade e algumas vezes medo (as proporções variam de mãe para mãe)

Volto e meia estou perguntando às pessoas: "Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?". É só uma pequena referência para uma reflexão: "Você está vivendo, ou só existindo?" Pois se ligamos o automático por muito tempo a vida passa e você não percebe. Os bebês se tornam crianças, estes se tornam adolescentes e depois adultos e você nem viu.

Dizem que depressão é excesso de passado, ansiedade é excesso de futuro. O passado já foi e o futuro ainda não chegou. Só temos o presente. 

Curta o seu momento, a sua criança só terá a idade que ela tem hoje neste momento específico. Tudo mais pode-se fazer depois, mas testemunhar e compartilhar do crescimento e desenvolvimento de uma criança, da sua criança, é um momento que não se repete. 

As coisas se vão, as pessoas também, mas as lembranças dos momentos, principalmente os felizes, vão conosco para a eternidade.

Cristine Cabral


sábado, 9 de agosto de 2014

Feliz Aniversário MAMÃE!!!!!!

Eu e ela em algum momento de 1976
Hoje é o aniversário da minha mãe e a melhor forma que encontrei de homenageá-la foi fazendo este post.

O que falar da nossa relação? Que tem altos e baixos? Sempre! Momentos mais próximos ou mais distantes? Sim. Assim como qualquer outro tipo de relação.

Eu já fiz raiva. Ela a mim. E quem nunca fez raiva a alguém?
Eu já a decepcionei. Ela a mim. E quem nunca decepcionou alguém?
Eu já a deixei triste. Ela a mim. E quem nunca deixou alguém triste?
Eu já a fiz muito feliz. Ela a mim. E quem nunca deu felicidade a alguém?
Eu já a deixei orgulhosa. Ela a mim. E quem nunca se orgulhou de alguém?

É assim! E quanto mais próxima, mais longa, mais conturbada pode ser a relação. Principalmente somada aos famosos conflitos de geração, diferenças de valores pessoais e personalidades marcantes e difíceis.

Eventualmente temos nossos desacordos e quando isso acontece nos recolhemos. Digerimos, ou ruminamos (depende da gravidade da situação) o que quer que seja e com algum tempo (maior ou menor de acordo com o que seja) voltamos ao normal. Sem DR (discutir a relação). Sem pingos nos “i’s” ou cortes nos “t’s”. 

Simples assim. Dessa forma resolvemos nossos conflitos. Em silêncio. (Depois que me tornei adulta, quando eu era criança minha mãe gritava um bocado, assim como boa parte das mães que cuidam das crianças, da casa, trabalham, etc.)

NÃO é a MELHOR forma, nem a forma CORRETA. É só a NOSSA forma. Funciona! E ponto final.

Sem DR, pois no fundo sabemos que não podemos mudar uma à outra (embora por muitos anos ela tenha tentado mudar várias coisas em mim. Mas isso é papel de mãe: tentar moldar os filhos àquilo que é considerado por ela o melhor).

Aceitamo-nos com cada um de nossos defeitos e os toleramos, pois sabemos que não podemos viver uma sem a outra.

Eu e ela em algum momento de 1976
Embora eu saiba que um dia teremos que nos separar definitivamente. Não há por que negar a realidade. (Como não pensar nisso, já que amanhã é o primeiro Dia dos Pais, sem meu pai?) Vivo na esperança que este dia demore bastante. Que só venha quando ela já for tataravó dos meus bisnetos. E que eu não vá antes dela. Não por egoísmo de achar que minha vida vale mais que a dela, mas para que ela não sofra a dor de me perder, já que nenhuma mãe jamais deveria passar pela dor de perder um filho.

A vida já levou meu pai, mas eu ainda tenho minha mãe. Foi ela que me alimentou, que cuidou de mim doente, que ensinou-me a caminhar com minhas próprias pernas (no sentido denotativo e conotativo), que me levou às festas (não só ir deixar e buscar, mas estar lá), quem eu podia chamar a qualquer hora do dia ou da noite, por qualquer imprevisto e tantas coisas mais...

Digo e repito: “Todo erro de mãe deve ser perdoado. Pois se mãe erra é tentando acertar.” (Abro este parêntese para deixar claro que aquelas que abandonam, ou agridem violentamente não têm o direito de receber este nome “MÃE”)

Eu e ela em algum momento de 2014
Certamente cometerei os meus erros como mãe, já que sou imperfeita como qualquer outro ser humano. E a minha relação com minha filha não terá a mesma forma, mas será igualmente cúmplice.

Vinícius de Moraes dizia “O perdão também cansa de perdoar.” Mas uma mãe nunca cansa de perdoar. E os filhos, cansam? Eu, não!

Imagino que depois de ler isso, possivelmente depois de algumas lágrimas, ela não vá comentar, a não ser por escrito (pois pode esconder o choro  (se vier) atrás da tela do computador), já que tenho uma mãe de emoções (todas!) à flor da pele e de intensidade homéricas. Então não precisa dizer... eu sei! 

Feliz aniversário e muitos, muitos, muitos anos de vida! Amo-te! 


Cristine Cabral