terça-feira, 30 de abril de 2013

Não subestime



No facebook frequento alguns grupos de mães. São espaços onde dúvidas, experiências, medos são compartilhados e retirei dois posts de um deles (com autorização das autoras, desde que resguardado sigilo) para falar sobre o tema de hoje: Educação Emocional.

"Tenho um cachorro de 15 anos que esta com cancer fase terminal, hoje ele piorou bastante estou dando um remedio mas a veterinaria falou em eutanasia (...) Minha filha tem 2 anos e 3 meses pode até parecer doideira mas ela é muito esperta, sente falta dele ate quando ele esta no banho ou no veterinario em consulta, quando perdemos nossa gatinha ela teve febre, acordava a noite chamando-a, até que ganhou outra gatinha, e melhorou na hora, tenho medo dela ficar ruim sabe, como posso falar com ela sobre isso? Me ajuda, minha filha não vai perguntar 1 vez por ele e depois esquecer, e mesmo eu distraindo ela volta no assunto pq com a gatinha foi assim."


"Tenho um bb de 2 ano 3 meses q não frequenta escola. Desde q engravidei virei mãe 24 horas. Meu filho é hiper,super mega grudado em mim. Resolvi q preciso trabalhar para colocar um projetos engavetados em prática, ajudar em casa, enfim melhorar de vida! Meu plano inicial é trabalhar das 16h as 3 da manhã, já q tenho "facilidade" d ficar acordada até tarde e acordar cedo. Assim tbm na parte da manhã ficaria com meu filho. Não penso em colocar ele na escola no momento. Então minha mãe ficaria com meu filho em casa das 16h as 19h (hora q meu esposo chega do serviço). Assim ele teria sempre a presença materna ou paterna por perto. Meu marido é super pai cuida bem do nosso filho. Ele q dá mamadeira, banho e coloca para dormir todos os dias. Mas a minha preocupação é: bom vou ser sincera não estou preparada para deixar meu filho essa é a real. Mas fico pensando se não for agora q tenho essa oportunidade será quando??? (...) como preparar meu filho para minha ausencia? Já conversei com ele:"M... a mamãe pode sair para trabalhar?" Ele: "não, fico triste!" Nem preciso falar q "mata" meu coração! (...) Sei q no começo vai ser um pouco complicado... mas como não ser tão desgastante para ambos? (...) To sofrendo com uma coisa q no futuro sei q será banal, mas agora esta doendo."

As duas dúvidas são bem comuns e os assuntos são bem delicados: morte e volta ao trabalho.

Minha intensão aqui não é responder e sim dar exemplos, pois as respostas dadas a estas mães foram específicas para elas e não são receita, pois cada caso é um caso. Mas resolvi tomar como exemplo. 

Precisamos antes, entendermos um pouco sobre o desenvolvimento de uma criança de 2 anos de idade.

Aos 2 anos a criança já tem grande capacidade de entendimento da comunicação oral. Excerto questões mais abstratas, ou muito fora da realidade dela. Mesmo que a criança não fale muito, ela já entende quase tudo. Vamos lembrar que por volta dos 6 meses se brinca de "Cadê o bebê?", então essa brincadeira já demonstra que é capaz de entender que o bebê é ele, que ele é capaz de se esconder, que o seu comportamento tem influência direta no comportamento dos adultos. Se com 1 ano já é capaz de organizar frases simples como "Quero água.", consegue reconhecer e nomear uma infinidade de parentes, brinquedos e personagens, consegue acompanhar e se divertir com histórias curtas, aos 2 anos é absolutamente capaz de perceber as alterações na rotina, no comportamento dos adultos. A criança percebe, mas não entende. Cabe aos adultos explicarem o que está acontecendo.

Assim não é de se admirar que a filha da 1ª mãe tenha percebido a ausência do cachorro e queira saber o que aconteceu. E quanto mais sincera for a conversa, mais a criança vai aprender para lidar com situações futuras. A morte faz parte da vida. A plantinha nasce e morre, assim como os bichinhos e as pessoas. 

No caso da 2ª mãe, o comportamento da criança provavelmente é um reflexo da insegurança da mãe com relação à volta ao trabalho. Ela mesma reconheceu quando disse: "bom vou ser sincera não estou preparada para deixar meu filho essa é a real." E este sentimento não é exclusividade dela. Todas passam por isso. Seja aos 4 ou 6 meses de idade, como a maioria, ou aos 2 anos. A dificuldade se torna maior, pois como mais tempo se passou mais difícil é mudar o comportamento. Mas difícil não quer dizer impossível. E quanto mais tempo passar, mais difícil será... para os dois, filho e mãe. Aos 5 anos por exemplo a criança pode até ser capaz de simular doenças, ou fazer chantagem emocional, fora as birras de praxe para manter a mãe por perto.

O que os dois depoimentos têm em comum, além da idade das crianças é o fato de que as mães estavam projetando os próprios sentimentos para as crianças. Imaginando que eles sentiriam exatamente o que elas estavam sentindo. E que não seriam capazes de lidar com estes sentimentos. 


Não subestime seu filho. As crianças são capazes de grandes feitos, desde que os adultos consigam dar oportunidade e suporte. Por que também não é só jogar a notícia. "O cachorro morreu e não volta mais." ou "Vou voltar a trabalhar e ponto final". É necessário que a situação seja explicada numa linguagem simples. E que os adultos estejam preparados para dar o suporte necessário, seja o luto pelo bichinho, ou a adaptação à nova rotina.

Sentimentos difíceis fazem parte da vida e quanto mais cedo aprendemos a lidar com eles mais fácil será lidar com as perdas e dificuldades futuras, provavelmente, bem maiores que estas.

Cristine Cabral

Para ler mais sobre o assunto, sugiro o post "Ouwnnn... o 'bichinho'..."


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Rivalidade entre irmãos - Amigos ou Inimigos?

Quem tem irmãos sabe que os conflitos e discussões fizeram ou fazem parte do dia-a-dia. É comum os pais sentirem-se desanimados ao pensar que os filhos não se gostam, ou estão infelizes com os irmãos...
A questão aqui é que existe o lado construtivo dessas brigas e discussões e o lado destrutivo. Enquanto discutem, as crianças aprendem a lutar pelos seus direitos, aprendem a defender-se e também a expressar os seus sentimentos. Resmungar, implicar as vezes consiste em uma forma de transmitir afeição e também brincadeira. Claro que tudo tem limite.
Os pais precisam deixar espaço para os filhos resolverem os próprios conflitos. De qualquer forma têm que estar atentos para que as discussões não assumam formas exageradas e passem para agressão física. A lutas físicas entre irmãos não devem ser toleradas em nenhum momento, assim também como o abuso psicológico e verbal.

Quando isso acontece é preciso pensar o "Porquê"?

A explicação mais comum para a rivalidade entre irmãos está na relação dos pais com os filhos. Quando os pais demonstram favoritismo relativamente a um filho, ou então os irmãos mais velhos ficam ressentidos pela atenção dada aos mais novos... Depois vem as questões cognitivas, um irmão mais "esperto", mais talentoso...  Os pais podem estar com problemas conjugais e os filhos brigam para desviar a atenção dos pais. De fato há sempre um motivo.

Mas afinal o que fazer?

A primeira dica e também se o seu caso não se enquadra em nenhum citado acima, é ignorar. Deixar os filhos resolver os seus próprios problemas ensina-os a "encarar" suas próprias batalhas sem precisar dos adultos. Não vamos estar sempre ao lado dos nossos filhos para brigar por eles...por isto esse é um bom exercício para os protetores de plantão.

Ensine ao seu filho competências para resolver problemas. Podendo ser feito através de brincadeiras. Teatro e fantoches ao simular uma situação de conflito.

Combata o comportamento "queixoso". É preciso ter cuidado em não reforçar o comportamento de crianças que tendem a fazer queixa dos outros. Isso não resolve o problema da criança. Uma boa solução é encorajá-lo e dizer que tem a certeza de ele irá conseguir resolver a questão sozinho. Controle o seu espírito super protetor e não vá tomar satisfação com a outra criança em defesa do seu filho. Pare e pense, não faça com o filho dos outros o que não gostaria que fizessem ao seu! Digamos que essa frase se enquadra bem em tudo (risos).

Estabeleça um programa de recompensas. Explicar aos filhos que se eles não brigarem durante um período "x" ganham um adesivo... sempre que se comportarem bem um com outro ganham mais e em seguida podem trocar por recompensas (Para crianças dos 2 aos 8 anos).

Prepare a criança para a chegada do bebê. Envolva os mais velhos nos preparativos e assim fazê-los sentir que o bebê também lhes pertence.

Organize-se para estar sozinha com cada criança. Vai fazer com cada um sinta do seu modo que é importante para a mãe.

EVITE proteger uma criança em excesso. É comum nos mais novos, o "caçula" ficar como o "coitadinho", ele é "pequenininho"... E por incrível que pareça em investigação realizada ficou comprovado que as crianças mais novas são as que mais provocam o comportamento agressivo, embora a culpa seja atribuída aos mais velhos...por isso esteja atenta aos pequenos "anjinhos".

EVITE atribuir muitas responsabilidades ao mais velho. Sem querer os pais erram em cobrar mais dos mais velhos e principalmente quando são meninas. Cuidado isso pode gerar rivalidades e ressentimentos.

E depois que eles crescem e você fez a sua parte ...cada cabeça uma sentença...

Recordo de escutar uma professora de Psicologia dizer sem "pestanejar", nem todo irmão é amigo, nem toda relação de irmãos é saudável, então não temos que nos sentir obrigados a cultivar algo que não nos faz bem! Isso para os adultos claro. Mas primeiro esgote as tentativas de entendimento. 

Muito bem! Gostei...realmente faz todo sentido, de qualquer forma eu considero essa frase importante para todos os relacionamentos.

Briguei e discuti muito com os meus irmãos até sair de casa (risos). Porém nem tudo era confusão... Gostava muito de brincar com o meu irmão quando criança e com a Tárcia mas ela era muito chorona (risos)...de qualquer forma tinha seus motivos, pois teve alguns problemas de saúde. Quando adolescentes saiamos muito os três juntos. Depois cada uma para o seu lado. Depois vieram os namoros e casamentos e tudo ficou mais calmo. Hoje entendo os motivos e os porquês, somos muito diferentes e os mesmo tempo temos muito em comum. Assim conseguimos nos entender e esclarecer os nossos conflitos. Temos abertura para falar o que sentimos... Eu os admiro muito, o meu irmão Bergson (mais velho) e minha irmã Tárcia (caçula). Eles sabem disso.

Sou feliz com os irmãos que tenho fomos regados pelo amor de nossos pais... .sempre. :).

Amo a minha família.


Um bom fim de semana!

Taciana Ferreira




terça-feira, 23 de abril de 2013

"Na sua idade eu..."

Começar qualquer frase com essas palavras dirigidas a um pré-adolescente, ou a um adolescente é certeza de nada será ouvido.

Primeiro que o mundo no qual você viveu sua adolescência é totalmente diferente do mundo em que seu filho adolescente vive. E ele tem plena noção disso. No "seu tempo" não se tinha tanto acesso a internet, as ruas não eram tão perigosas, etc. Não dá para comparar. Simples assim!

Outra coisa é que a grande maioria dos adolescentes não querem ser iguais aos pais. "Não quero ser igual a você nem hoje em dia, imagine quando você tinha a minha idade... dãããã!" Alguma coisa parecida com isso é que pode ficar passando na cabeça deles enquanto você desfia um rosário de todas as coisas que fazia na idade dele. 

Isso acontece por que na adolescência os pais perdem o posto de heróis. Deixam de ser a referência. Este posto é ocupado pelo grupo dos iguais. A opinião dos amigos passa a ser mais importante. Isso é uma característica da fase. Para alguns com mais intensidade, para outro passa quase despercebido.

Outras características são: 
  • Busca do prazer imediato. Tudo tem que ser para aqui e agora, instantâneo. Não à toa o uso de drogas (incluindo o álcool, que é legalizado) nessa fase ser tão comum hoje em dia.
  • Sensação de invencibilidade. Pouca consciência dos riscos à que estão expostos. Até que na teoria sabem que os riscos existem, pois informação não falta hoje em dia, mas a sensação é que vai dar tudo certo. "Só dessa vez não faz mal". Daí os casos de gravidez na adolescência, dentre outras coisas.
Resolvi falar sobre isso, levada pelas opiniões que ando lendo a respeito da redução da maioridade penal. A qual sou contra.

Primeiro ponto: se a ameaça de ir para cadeia fosse suficiente para evitar que alguém fizesse alguma coisa, os adultos não cometeriam tantos crimes e infrações. Visto que (teoricamente) depois da adolescência se tem mais noção das consequências para si, para o outro e para a sociedade.

Segundo: estão pensando só nos garotos pobres que cometem crimes de morte. Mas se eles forem considerados maior de idade com 16 anos, todos os outros vão ser também. Você quer sua filha de 16 anos tendo livre acesso a qualquer motel da cidade? Quer ser filho de 16 anos podendo comprar bebida alcoólica em qualquer ponto comercial?

Eu não gostaria de ver o trânsito cheio de motoristas (mais ainda) inconsequentes e impacientes.

Sem falar em questões mais complexas: como vai ficar o mercado de trabalho? Eles serão absorvidos como profissionais e não mais como aprendizes ou estagiários como a atual lei determina? Se um garoto de 16 anos tiver relação sexual com a namorada de 14 anos, poderá ser acusado de pedofilia? O sistema carcerário vai dar conta de prender todos? Incluindo os que difamarem professores ou colegas (Crime contra honra), os que brigarem em festas ou na saída das escola acusados de lesão corporal (Crime contra a pessoa)?

A redução da maioridade penal parece uma "solução mágica". Mas é só mágica mesmo. Para resolver a questão da violência é algo que vai muito além do que só "mandar prender". É preciso uma mudança em toda as instituições, inclusive na família. Pois com essa cultura do consumo, muitos adolescentes de classe média, ou mesmo alta, andam cometendo crimes virtuais, ou reais, com ou sem violência. E crime é crime, (pelo menos na teoria) todos que cometem crimes devem ser punidos de acordo com a gravidade do que cometeu. Muitos jovens são levados por esse desejo constante de ter sempre mais, o mais caro, o da moda, o que  todos os amigos já tem, ou que ainda ninguém tem e ele quer ser o primeiro a ter... e tem que ser agora!!!!

Valores vêm de casa. Que valores você está passando para sua criança que em alguns anos será um adolescente? E você já tem um ou mais adolescente em casa, consegue saber o que é importante para ele(s), do que gostam, com quem andam, etc?

"O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele."
I. Kant

Cristine Cabral

Caso queira continuar lendo sobre punição e por que nem sempre funciona sugiro os posts:

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sentimentos de criança - Alienação Parental


Quando casei com o meu marido, ele estava divorciado e tinha duas filhas do primeiro casamento.
Em seguida a filha mais velha teve uma menina que hoje tem 7 anos, a Leonor. E depois eu tive a Eduarda agora com 4 anos, ou seja, a Leonor é mais velha que a tia. :) Sempre tive o cuidado de cultivar a relação delas independente dos entendimentos e desentendimentos dos adultos. Confesso que não é fácil! Mas também não é difícil quando se consegue distinguir as crianças das complicações dos adultos (risos). Elas vieram depois...
 
Dessa maneira e naturalmente elas são muito amigas e adoram-se. Tenho uma família muito querida e grande no Brasil. Mesmo distante consigo manter o contato e ainda bem que a Internet existe. Tem facilitado imenso a diminuir a distância física. A Eduarda adora ir ao Brasil e lembra de todos. Também porque eu cultivo esse sentimento nela...

É tão importante para uma criança crescer e se sentir amada e acarinhada pelos familiares. Valorizar a presença dos parentes, tudo isso contribui para um crescimento saudável e favorece o equilíbrio emocional nas crianças.
Pois é, criança tem sentimentos e muito... Em vários situações de desentendimentos familiares não é difícil os pais usarem os filhos e envolverem as crianças no meio da confusão! Isto é, envolvem as crianças numa confusão que não é delas, que não lhes desrespeito e muito menos interessa. Talvez se as pessoas tivessem mais consciência dos estragos que essa atitude pode provocar na cabeça de uma criança pensassem melhor e não fossem por este caminho infeliz. A sua infelicidade não tem que ser a da criança. Respeite os sentimentos delas. Agir assim é puro egoísmo. 

É uma atitude muito comum em casos de divórcio, rixas familiares, etc... Quando um pai põe o filho contra a mãe e vice e versa...contra os avós... isso se chama "Alienação Parental".

É triste pois agindo dessa maneira os adultos comprometem laços que são importantes paras as crianças. "Contaminar" a cabeça de uma criança com os problemas dos adultos deveria ser considerado "crime". E pelos vistos é! 

LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010
Dispõe sobre a alienação parental e altera o art. 236 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1 Esta Lei dispõe sobre a alienação parental.

Art. 2 Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. (tem continuação)

Entenda o seu problema parental não é problema da criança.... E agindo dessa maneira não dá hipótese a criança de tirar suas próprias conclusões e fazer a escolha de aproximar-se ou não. Só para lembrar as crianças têm sentimentos...ficam confusas, sofrem e podem desenvolver patologias.

Ainda bem que no meu caso os adultos estão agindo como adultos e hoje temos duas meninas felizes e amigas. Indiferentes aos nossos problemas, que gostam de estar por estar e que estão aprendendo a importância que uma tem na vida da outra. Sinto-me feliz por ter alguma responsabilidade nisso. E fico ainda mais feliz por ver a minha filha achar engraçado ser tia de uma linda menininha mais velha do que ela. (risos). Isso é amor.

Quando as pessoas perguntam e ficam completamente admiradas com esta situação...Algumas nem disfarçam o espanto e os comentários exagerados e as vezes infelizes (risos). Explico com naturalidade como aconteceu na frente das meninas, não tenho vergonha e nem me sinto constrangida. Fazer o que?!? Hoje elas já percebem melhor e acham super divertido. Afinal complicar para que? A vida tem muita coisa boa para nos dar...

Sou da geração do descomplica...

E hoje é aniversário do meu querido maridinho, pai da Maria Eduarda (4 anos) e avô da Leonor (7 anos). Ele aprendeu também a brincar com a situação, diz que é paiavô kkkkkkkkkk. Amo minha família.

Sorria mais faz bem ao coração. Cara feia da rugas. :)

Saudações de Terras Lusas!

Taciana Ferreira

terça-feira, 16 de abril de 2013

Dedicação, supervisão, orientação, independência.


"Ele vai ser pra sempre o meu bebê."

Não gosto dessa frase e procuro não fazer o mesmo. Certa vez ouvi da mãe de um cliente que ela tinha escutado do pediatra da criança: "Este menino precisa ser promovido à idade que ele tem." Amei! Realmente isto acontece com muita frequência. Mães que não querem abrir mão de seus "bebês", mas a natureza não congela fase nenhuma. As crianças precisam ser tratadas de acordo com a idade que têm.

Faço uma ressalva neste ponto, pois existem crianças com dificuldades de desenvolvimento devido à síndromes ou deficiências, mas até estas devem ser "promovidas" de fase. Neste caso não levando em consideração a idade e sim as conquistas alcançadas.

Quando eles são recém-nascidos a dedicação da mãe para com o bebê é total. Ela praticamente deixa de ser qualquer outra coisa que não só e exclusivamente mãe. Porém com o passar dos meses já é possível ir passando da fase de dedicação para a de supervisão. Por exemplo, se o bebê já senta, a mãe já pode realizar alguma outra atividade, desde que esta possibilite uma supervisão do que a criança está fazendo. Quando chega a dar os primeiros passos, voltamos a fase da dedicação, pois com esta nova conquista as ameaças são outras.

Ou seja, a cada fase do desenvolvimento passamos por este ciclo: “Dedicação, supervisão, orientação, independência.” Atualmente estou na fase de supervisão na atividade  de tomar banho sozinha, deixo que ela passe o sabote, porém também dou a “minha geral”, as vezes ela pede para lavar os cabelos ela mesma, deixo e vou falando como deve ser. Daqui a uns meses passarei para a fase de orientação onde ficarei fora do box e ficarei apenas observando se faltou alguma coisa e para corrigir caso tenha feito algo errado. Até que ela conquiste a independência de tomar banho sozinha.

Dois aspectos são os mais comuns para mães que “atrasam” o desenvolvimento dos filhos.

  1. Leva tempo.  Muito mais rápido ela mesma dar o banho, pentear e arrumar do que esperar que a criança faça tudo no tempo dela e ainda passando por todas as tentativas e erros do processo.
  2. A mãe gosta de se dedicar aos filhos e não quer abrir mão de fazer essas coisas. Para estas a independência dos filhos soa como uma perda.
Mais de uma vez encontrei mães assim na clínica. 100% dedicadas. Tanto que quando perguntava o que elas gostam de fazer, a primeira resposta é sempre algo relacionado aos filhos e as vezes ao marido. E então refaço a pergunta salientando que quero saber dela, como pessoa, como mulher... algumas não têm resposta a esta pergunta.

Mas qual o problema de ser dedicada? Se ela gosta, se faz bem aos filhos?

A questão está nesse “bem”. Crianças que crescem sob este regime de dedicação total, podem se tornar tiranos. Adultos que pensam que a simples existência dele é suficiente para serem amados e que a outra pessoa tem o dever de cuidar deles. Pessoas que se consideram mais importante que qualquer outra. Ou podem ser adultos totalmente dependente. Adultos que não são capazes de resolver qualquer problema, pois os pais sempre estiveram alerta para evitar qualquer tipo de conflito e se mesmo assim algo acontecesse os “heróis” estavam sempre a postos para resolver o que quer que fosse.

"Nossos filhos não são nossos. Eles são filhos da vida ansiando pela vida." F. Nietzsche

Caso queira ler mais sobre o assunto, o post "Ouwnnn... o 'bichinho'..." pode ser interessante.

Cristine Cabral

terça-feira, 9 de abril de 2013

Licença DA Maternidade

Ser mãe é estar sempre em estado de alerta. Mesmo quando as crianças estão dormindo, uma mãe dedicada está atenta se ouve algum choro, tosse, ou espirro. Levanta para verificar se não está com calor, ou com frio. E nos primeiros meses levanta só pra ter certeza de que o bebê está respirando. É um estado constante de observar se há algum risco, seja deles se machucarem, seja de fazer alguma "arte".

Na Análise do Comportamento existe o que chamamos de Saciação. Por melhor e mais importante que seja o reforço, caso permaneça de forma constante, sempre vai haver um momento em que o organismo irá ser saturado... ao ponto de se tornar aversivo.

E como mãe sente culpa por tudo, mesmo o que não está diretamente relacionado com a maternidade, imagine o tamanho da culpa de dizer a frase: "Estou cansada. Estou de 'saco cheio'". Principalmente para aquelas que tiveram dificuldades de engravidar, mas esta culpa está presente em praticamente todas. É um sentimento do tipo: não posso "renegar" meus filhos. 

Quando uma mulher está saciada da função de mãe, na rotina da maioria, existe uma "folga" deste papel. No momento em que estão desempenhando o papel de profissional, ou de esposa, etc. Por isso essa necessidade de uma licença "da" maternidade é mais sentida pelas mães de bebês, pelas mães 24/7 (24 horas por 7 dias na semana), ou pelas que tem mais de 2 filhos.

Mãe, antes de tudo, é um ser humano que tem necessidades inclusive de tirar uma folga da função de mãe. Importante: Estou falando em tirar folga da função e não tirar uma folga pura e simples. Explicando melhor: se você cuida da casa e trabalha fora e dia todo e a noite resolve se trancar no quarto para assistir na novela sossegada, você está tirando uma folga pura e simples, pois deu conta das funções de dona de casa e de profissional, mas ainda não "deu seu turno" na função de mãe.

A folga pura e simples também é necessária, mas quanto menores são os filhos, mais raras estas são. Eu, por ser separada tenho um facilitador para isto, já que todos os domingos a minha filha fica com o pai e quinzenalmente ela dorme lá. Meu domingos, na maioria, são folgas da maternidade, mas não são folgas pura e simples, visto que não tenho empregada, é quando faço tudo que ficou acumulado durante a semana de serviço doméstico. Mas dependendo do meu humor, ou de como foi a semana, ou mesmo da fase do ciclo hormonal, tiro minha folga pura e simples. Mesmo que deixe de fazer alguma coisa de casa, pois tirar essa folga é uma questão de saúde física e mental.

Quem nunca tira essas folgas corre o risco de ser injusta com os familiares. Quem é adepta da palmada, pode deixar escapar uma, mais pelo fato de estar emocionalmente descontrolada, do que propriamente pela travessura da criança. Provavelmente não vai ser a mais carinhosa das esposas. E a longo prazo estas questões podem trazer problemas de relacionamento, cobranças, etc.

Uma descanso é importante e necessário. É só uma questão de equilibrar e se organizar. Que tal uma viagem para namorar? Para crianças com menos de 1 ano, que precisam de mais atenção, as viagens podem esperar um pouco, mas um cinema, uma saída a noite são válidas, desde que com certa frequência. Se a criança já tem mais de 1 ano, 4 dias longe dos pais (desde que estejam com alguém de quem elas gostem e não só que seja da confiança dos pais) não tem problema e para crianças com mais de 7 anos, pode até ser  uma semana. Os adolescentes podem até gostar muito da ideia de ficar 15 dias (ou mais) sem os pais...
A quantidade de dias de folga que coloquei aqui são só sugestões, podem ser mais, dependendo da rotina da criança, se já está acostumada com a pessoa que vai cuidar dela nesse período. Ou precisa ser menos caso a criança tenha alguma necessidade especial, ou problemas de comportamento, etc. Cada caso é um caso.

Assim sendo, não sintam culpa por estarem cansadas. 

Descansem, divirtam-se.

Cristine Cabral

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Motivação x Volição na Aprendizagem Escolar


Dons e talentos, como os frutos de uma árvore, só se tornam visíveis quando estimulados sob " condições necessárias e suficientes" ( Teo, 1997). Esta frase, é a base do post de hoje, com isso quero abordar um tema interessante que conheci logo no início do mestrado em Psicologia Educacional que se chama "volição" na aprendizagem escolar. Atualmente um dos maiores esforços desenvolvidos nos vários estudos deste tema tem a intenção de aumentar o grau de realização dos alunos e assim atingir o sucesso escolar tão esperado e desejado pelos pais

Nesse sentido, os professores tem um papel importante, pois influenciam desde os primeiros anos, os alunos para o desenvolvimento e ajudam a comprometerem-se nas tarefas dentro e fora da sala de aula.

De fato os estudantes munidos de estratégias volicionais, participam activamente no seu processo de aprendizagem, seleccionam métodos apropriados e retém esse material à medida que avançam. O cultivo destas habilidades e confiança para enfrentar os desafios escolares e mais tarde a responsabilidade da vida ativa inicia com a interacção, suporte e instrução da auto-regulação que percepcionaram anteriormente. Para atingir esse fim, os alunos precisam de adquirir auto-disciplina nas tarefas escolares. Daí a importância da "parceria" pais, professores e escola. Uma atitude positiva dos pais diante da escola contribui para que os filhos valorizem a mesma.

Continuando na vertente educacional, a volição é tida como o sistema psicológico de controle que protege a concentração e a atenção na tarefa. Direcciona o esforço face às distrações ambientais e pessoais, ajudando assim na aprendizagem e desempenho.

A psicologia actual enquadra a volição como uma das componentes das teorias da auto-regulação.Sendo assim volição é uma das fases da teoria triádica identificando-se com a vertente mais comportamental e completando o vazio entre os pensamentos e as acções. Sendo esta a força motriz, o atributo que inicia e mantém a acção com a concretização de um objetivo.

É frequente a confusão entre volição e motivação, contudo são dois conceitos que são facilmente distintos não obstante a sua interligação. Isto é a volição compreende no atingir de metas, enquanto que a motivação está mais relacionada com a definição das mesmas ou a intenção de fazer algo. Isto significa que a motivação isolada não basta para alcançar objectivos, o sucesso requer um esforço persistente, estratégias adequadas e um estado emocional congruente. É esta combinação de factores, que se apresenta no conceito volicional, que faz com que a volição em conjunto com a motivação seja essencial para atingir as metas. 

Dessa maneira o processo volicional consiste na recepção de informação, relacionando as experiências passadas com o presente. O estímulo que desencadeia a acção é o desejo da pessoa, este é seguido por um fenómeno de escolha em direcção ao objectivo. Posteriormente e mediante as estratégias estabelecidas é executada a própria acção. O processo termina com a avaliação da acção.

É frequente no contexto escolar alunos e professores deparam-se com inúmeras situações de aprendizagem que necessitam do controle volicional. E.x.:

  • Quando é exigido aos alunos para acabar uma tarefa atribuída, logo estes não são livres de escolher outra acção;
  • Existe barulho suficiente na sala de aula para distrair os alunos da tarefa que eles se comprometeram;
  • Outros interesses e metas subjetivas competem com a intenção de trabalhar ou aprender, dividindo assim a atenção dos alunos; (muito comum).
  • Os alunos desenvolvem ansiedade que interfere com o desejo de agir. Os alunos então poderão ser ajudados por um aumento de auto consciência que sugere a necessidades de controle volicional. 
  •  
Muitos alunos têm dificuldades com os trabalhos ao longo da escolaridade, embora alguns fazem-no naturalmente mas outros esforçam-se para os iniciar e manterem-se atentos. São muitas vezes distraídos por barulhos na sala de aula, ou atividades mais apetecíveis. Estratégias volicionais, nestas condições podem servir de impulsionadores para que consigam manter o objectivo, já vários estudos o demonstraram. Estes pensamentos e acções equipam os alunos com técnicas neutralizantes a emoções negativas ou intrusões. 

"Aprender não é algo que acontece ao aluno é algo que acontece pelo aluno”. Zimmerman (2001)

A chave do sucesso, é sem dúvida o esforço e a determinação!

Bons estudos e bom fim de semana!

Saudações de terras lusas.

Taciana Ferreira

terça-feira, 2 de abril de 2013

O fantasma dos pais biológicos

Mais um sobre adoção, complementando os meus dois últimos posts: "Filho do Coração" e "Contar ou não contar?"

Uma das questões mais delicadas quando o assunto é adoção é essa relação (ou ausência dela) com os pais biológicos. Muitos pais de crianças adotadas têm medo de qualquer aproximação, ou mesmo ciúmes. Realmente é uma situação imprevisível, pois cada caso é um caso. Se lidar com as emoções de uma pessoa é complicada, imagine lidar com as emoções de, no mínimo, três pessoas (mãe adotiva, mãe biológica e criança).

Mas como mãe e como psicóloga penso primeiro na criança, por ser a pessoa mais indefesa, a com menos capacidade cognitiva (pelo menos teoricamente) e emocional para lidar com uma situação delicada. 

Se os sentimentos, desejos e pensamentos dos filhos devem ser ponto de partida para análise de diversas situações, neste caso isto também se aplica.

Os sentimentos de uma criança adotada com relação aos pais biológicos podem ser das mais diversas, dependendo de como recebeu a notícia, de quem contou, de sua própria história. Pode ser que sinta:

- Raiva, ressentimento, mágoa, por ter sido abandonado.
- Agradecimento, por reconhecer que não pertencer àquela família (sendo por vontade da própria mãe ou da justiça) seria a melhor coisa para ele mesmo. Reconhecer que um lar adotivo harmonioso é melhor que qualquer lar biológico disfuncional.
- Indiferença, são pessoas estranhas como tantas outras no mundo. Apenas doadores genéticos.
- Curiosidade, do tipo: Quem são? Que fazem? Será que tenho irmãos?

Descobrir como uma criança se sente só é possível com muita aproximação, conversas sinceras, disposição por parte do adulto de perceber e aceitar o que é sentido. Para então dar sentido a tudo e planejar o que e como deve ser feito. 

Um "erro" comum a muitos pais é imaginar e conceber o que é melhor para seu filho, sem consultá-lo. Tudo bem quando a criança ainda é muito pequena e não tem conhecimento do mundo real, mas a partir do momento que a criança já entende o que significa ser adotado, deve receber uma atenção especial quanto a este assunto. 

E como vou saber se já tem condições de perceber o mundo real? Pelas perguntas. A partir das perguntas que todas as crianças fazem é que as verdades surgir.

Um dia a minha filha me perguntou: "Mamãe, por que eu sou sua filha?" Logo veio a resposta mais óbvia: "por que você saiu da minha barriga." Mas como não gosto de responder sem pensar, principalmente para ela, respondi que ela era minha filha por que a amo muito e por isso que é meu dever cuidar dela. Respondi isso, por que considero muito a possibilidade de um dia vir a adotar e queria dar a ela uma resposta que pudesse servir também para um possível irmão ou irmã. Em outras palavras, comecei a gestar um filho que pode ou não "nascer", mas se vier, meu mundo e o da "irmã" dele já está começando a ser preparado para isso. Se não considerasse a possibilidade, a resposta óbvia seria satisfatória, pois não haveria diferenças entre irmãos.

Alguém deve estar pensando, que exagero. Ela nem vai lembrar que um dia perguntou isso... 

Não. Realmente não vai. Mas a forma como ela se sentiu e o que ela pensou na hora são um alicerce para qualquer coisa que venha posteriormente e que diga respeito a este assunto (nascimento, irmãos, adoção, etc) O alicerce ninguém vê, mas é ele que dá sustentação.

Agora um detalhe importante: crianças só fazem perguntas difíceis a quem está disponível para elas. Quem tem tempo para elas. E se perceber segurança, sentir que não vai ser punido, ou punidor. Pois se ela perceber que toda vez que ela toca no assunto os adultos ficam desconfortáveis, tristes, ou com raiva provavelmente irá se fechar e tentar "resolver" tudo sozinha.

Por isso deixo a dica: se você for mãe adotiva e não sabe como lidar com esse assunto, primeiro procure ajuda para você mesma. Só depois que todos os seus conflitos pessoais estiverem resolvidos é que poderá ajudar seu filho a lidar com o assunto. 

Um filho adotivo não "pertence" à mãe biológica, nem à adotiva. Assim como qualquer criança ele pertence a ele mesmo.

"Nossos filhos não são nossos. Eles são filhos da vida ansiando pela vida." F. Nietzsche

Cristine Cabral