terça-feira, 23 de abril de 2013

"Na sua idade eu..."

Começar qualquer frase com essas palavras dirigidas a um pré-adolescente, ou a um adolescente é certeza de nada será ouvido.

Primeiro que o mundo no qual você viveu sua adolescência é totalmente diferente do mundo em que seu filho adolescente vive. E ele tem plena noção disso. No "seu tempo" não se tinha tanto acesso a internet, as ruas não eram tão perigosas, etc. Não dá para comparar. Simples assim!

Outra coisa é que a grande maioria dos adolescentes não querem ser iguais aos pais. "Não quero ser igual a você nem hoje em dia, imagine quando você tinha a minha idade... dãããã!" Alguma coisa parecida com isso é que pode ficar passando na cabeça deles enquanto você desfia um rosário de todas as coisas que fazia na idade dele. 

Isso acontece por que na adolescência os pais perdem o posto de heróis. Deixam de ser a referência. Este posto é ocupado pelo grupo dos iguais. A opinião dos amigos passa a ser mais importante. Isso é uma característica da fase. Para alguns com mais intensidade, para outro passa quase despercebido.

Outras características são: 
  • Busca do prazer imediato. Tudo tem que ser para aqui e agora, instantâneo. Não à toa o uso de drogas (incluindo o álcool, que é legalizado) nessa fase ser tão comum hoje em dia.
  • Sensação de invencibilidade. Pouca consciência dos riscos à que estão expostos. Até que na teoria sabem que os riscos existem, pois informação não falta hoje em dia, mas a sensação é que vai dar tudo certo. "Só dessa vez não faz mal". Daí os casos de gravidez na adolescência, dentre outras coisas.
Resolvi falar sobre isso, levada pelas opiniões que ando lendo a respeito da redução da maioridade penal. A qual sou contra.

Primeiro ponto: se a ameaça de ir para cadeia fosse suficiente para evitar que alguém fizesse alguma coisa, os adultos não cometeriam tantos crimes e infrações. Visto que (teoricamente) depois da adolescência se tem mais noção das consequências para si, para o outro e para a sociedade.

Segundo: estão pensando só nos garotos pobres que cometem crimes de morte. Mas se eles forem considerados maior de idade com 16 anos, todos os outros vão ser também. Você quer sua filha de 16 anos tendo livre acesso a qualquer motel da cidade? Quer ser filho de 16 anos podendo comprar bebida alcoólica em qualquer ponto comercial?

Eu não gostaria de ver o trânsito cheio de motoristas (mais ainda) inconsequentes e impacientes.

Sem falar em questões mais complexas: como vai ficar o mercado de trabalho? Eles serão absorvidos como profissionais e não mais como aprendizes ou estagiários como a atual lei determina? Se um garoto de 16 anos tiver relação sexual com a namorada de 14 anos, poderá ser acusado de pedofilia? O sistema carcerário vai dar conta de prender todos? Incluindo os que difamarem professores ou colegas (Crime contra honra), os que brigarem em festas ou na saída das escola acusados de lesão corporal (Crime contra a pessoa)?

A redução da maioridade penal parece uma "solução mágica". Mas é só mágica mesmo. Para resolver a questão da violência é algo que vai muito além do que só "mandar prender". É preciso uma mudança em toda as instituições, inclusive na família. Pois com essa cultura do consumo, muitos adolescentes de classe média, ou mesmo alta, andam cometendo crimes virtuais, ou reais, com ou sem violência. E crime é crime, (pelo menos na teoria) todos que cometem crimes devem ser punidos de acordo com a gravidade do que cometeu. Muitos jovens são levados por esse desejo constante de ter sempre mais, o mais caro, o da moda, o que  todos os amigos já tem, ou que ainda ninguém tem e ele quer ser o primeiro a ter... e tem que ser agora!!!!

Valores vêm de casa. Que valores você está passando para sua criança que em alguns anos será um adolescente? E você já tem um ou mais adolescente em casa, consegue saber o que é importante para ele(s), do que gostam, com quem andam, etc?

"O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele."
I. Kant

Cristine Cabral

Caso queira continuar lendo sobre punição e por que nem sempre funciona sugiro os posts:

2 comentários:

  1. Ótimo texto Cristine, não tinha parado pra pensar sobre a redução da maioridade pena e suas consequências . E sobre esse embate entre mães e filhos, acho que nunca acaba rsrs, não êh só na fase de adolescência não

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    1. Esse embate que você falou é o famoso Conflito de Gerações, que sim, vai muito além da adolescência.

      E obrigada pelo cometário e pelo elogio. :D

      Cristine Cabral

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