terça-feira, 16 de outubro de 2012

Punir, só, não resolve

Nós vivemos numa sociedade punitiva. Isso é um fato. Exemplo: a pessoa passa o ano inteiro chegando cedo, saindo depois da hora, mas se chega um dia, uma horinha atrasada (não importa o motivo) é chamada atenção, talvez até tenha algum desconto no salário.

Nosso trânsito (aqui em Fortaleza (CE), pelo menos) é um problema. Além das questões de planejamento, de investimento no transporte público, do consumismo, considero que deve ser levado em conta também a educação com base na punição. É incrível a quantidade de carros estacionados em local proibido. É como se todo mundo pensasse: “Se não tem ninguém pra me multar, então posso fazer.” O pensamento: “Será que estarei atrapalhando muita gente?” fica em segundo plano, ou nem ao menos é cogitado.

Essa é uma possível consequência de uma educação baseada na punição. A pessoa não aprende o certo e o errado, não pensa se vai ou não prejudicar alguém, só pensa se será capaz e como fará para escapar da punição.

A 1ª lembrança que tenho de que fiquei de castigo (provavelmente devo ter ficado várias vezes antes disso, mas esta é a minha primeira lembrança) foi ficar sem assistir TV. Nessa época minha mãe tinha um salão de beleza de “fundo de quintal” e era o lugar mais longe da TV. Achei ótimo ficar lá, ouvindo as conversas das clientes e manicures. E vi que ficar sem TV não era tão ruim assim.

A proporção que fui crescendo os castigos foram variando, mas sempre encontrava uma forma de me adaptar e acabava encontrando uma forma de me sentir bem. Os principais motivos dos meus castigos eram minhas constantes notas baixas (detalhe: reprovei a 7ª e também a 8ª séries do antigo 1º grau maior (é o novo!? (risos)) e o fato de nunca arrumar o quarto.

Imagino como deve ter sido frustrante para a minha mãe não conseguir com que eu fizesse o que ela queria. Sei que ela fez o melhor que sabia, afinal não fez uso das cordas, cintos e colheres de pau dos quais ela mesma foi vítima.

Antes que comece a gerar uma crise geral de culpa (principalmente na D. Marizete, (risos)). Uma coisa deve ficar bem clara. A consequência da punição tem mais a ver com os pensamentos e sentimentos de cada filho do que na escolha do castigo a ser aplicado.

Serei mais clara: o fato de conseguir me adaptar às situações adversas desenvolveu em mim, o que nós comportamentais, chamamos de variabilidade comportamental. Ou seja, consigo encontrar outro caminho para conseguir o que quero, ou consigo mudar de foco (encontro reforçadores equivalentes) muito facilmente. Por mais “terrível” que pareça a situação, logo encontro uma ótima saída.

Então: o que minha mãe fez acabou fazendo com que eu desenvolvesse uma característica muito mais útil e satisfatória para minha vida como um todo. O gosto pelos estudos acabei desenvolvendo naturalmente quando cheguei na Psicologia e vi assuntos que realmente me interessavam. Quanto ao quarto, é bagunçado até hoje. Mas quem liga? (risos)

No entanto, tudo isso é como EU lidei. Certamente meus irmãos tiveram sentimentos e pensamentos bem diferentes dos meus, ou não (?). Mas acredito que sim, já que as escolhas e os gostos de ambos são diferentes na maioria das vezes.

Mas e então? Se não é pra por de castigo, se não pode dar palmada, o que eu faço agora?????

Dê atenção ao CERTO!!!

Quando seu filho fizer qualquer coisa que ele se orgulhar e que vier lhe mostrar, esteja disponível para um lindo elogio. Nada mais frustrante que chegar para mostrar um 10 em matemática e ouvir um: “Você não fez mais que a sua obrigação”. Quando os irmãos, que vivem em pé de guerra, estiverem brincando juntos, pare o que está fazendo e vá até lá dar um beijo em cada um e diga como você fica feliz em ver os irmãos unidos.

Não é por que a nossa sociedade é punitiva, que isso deva ser perpetuado. Nossa sociedade acaba que valoriza muito o erro, enquanto o acerto “não é mais que a sua obrigação”.

Quem não gosta de elogio? Quem não erra? Alguém aqui conseguiu andar, sem cair, aprendeu a escrever sem usar a borracha? O erro faz parte da aprendizagem. E não deve ser carregado de culpa e sim corrigido para que não se repita... quantas vezes forem necessárias. E sim, algumas vezes a punição poderá ser usada, dependendo do caso. Porém deve ser a exceção e não a regra.

Que "mundo" você está carregando?
Já errei muito e ainda vou errar, inclusive no papel de mãe, mas todas nós mães (e pais também) temos que colocar na cabeça que ninguém é 100% responsável pela felicidade ou infelicidade dos filhos... isso depende mais dos sentimentos e escolhas de cada um deles.

Então mãezinhas, que tal dar umas férias à culpa? Que tal treinar o seu olhar para as coisas boas? Não só as que seu filho faz, mas também as que VOCÊ faz, o maridinho faz e seja lá quem mais está do seu lado faz.

Se não gostou, se viu algo errado, fique a vontade para fazer suas colocações. E se gostou do texto, que tal um elogio, ãh? (risos)

Cristine Cabral

4 comentários:

  1. Amiga, parabéns pelo Blog e isso não é apenas um reforço, rsrsrs, mas sempre te disse e volto aqui para dizer para todos, admiro-te muito com mãe. E vc tem me ensinado muito! Parabéns!!!

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    1. Nós aprendemos uma com a outra :)
      Afinal os primeiros passos na Análise do Comportamento que dei foi contigo.
      Obrigada pelo SR+ ;)

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  2. Curti demais o texto, sempre acho que educar é uma questão mais de inteligência emocional do que de esforço físico. É sempre bom enxergar o outro sem medo e sem culpa, principalmente quando esse outro é seu filho. Vejo muitos pais com medo de suas próprias crias, têm medo que o menino chore, que caia, que diga que não ama os pais, que não consiga executar uma tarefa, que não passe no vestibular, entre outras questões. No final, muitas vezes acho que estamos todos desaprendendo a lidar com as frustrações e isso é muito perigoso. A frustração nos ensina a controlar a raiva, a conviver com as diferenças, a improvisar novas soluções de vida. É tão bom quando a gente aprende que a vida é feita de perdas e ganhos, nada mais. E, principalmente, que a felicidade é uma questão de escolha pessoal, nós não somos a fonte de felicidade do outro, assim como o outro não é a nossa fonte de felicidade. Creio que nosso papel enquanto pais é educar os filhos para um convívio social harmônico, dar uma consciência de responsabilidade quanto aos atos praticados no decorrer da vida. Nós decidimos o que vamos fazer com a nossa própria história, isso vale para pais e filhos. Existe vida sem drama, sem precisar que o mundo acabe porque hoje ou amanhã pode ser um dia de tristeza.

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    1. Muito obrigada pela participação. Seu comentário complementou perfeitamente o post.
      Volte sempre ^.^

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