terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Reconhecimento é bom e todo mundo gosta

Cena:  Uma mãe num shopping e o filho de 7 anos quer que ela compre um brinquedo, para conseguir o menino começa a falar alto e a sapatear e para fazê-lo parar a mãe diz:
- Para com isso! Está todo mundo olhando para você!

Tudo normal, o problema está que, nesse caso, o menino adora aparecer, adora ser o centro das atenções, então o que a mãe pensa ser uma ameaça de punição torna-se um sinalizador de reforço. Principalmente se a criança souber que em público a mãe não fará uso da força física, caso ela seja adepta da palmada. Então a birra dele provavelmente vai aumentar, depois de ouvir essa frase.

Meu objetivo hoje é falar sobre o que nós, analistas do comportamento, chamamos de reforço positivo. É o ganho por emitir determinado comportamento. (Ressaltado que trabalhamos com probabilidades, não com causa e efeito. O ser humano é muito complexo para que se consiga analisar todas as variáveis envolvidas)

Já ouvi de um pai na clínica a seguinte frase: "Não vou recompensar meus filhos por eles fazerem o que é obrigação.". Ok. É uma escolha, é uma forma de educar... a mais comum podemos dizer. Porém neste caso, não são os reforçadores que incentivam o comportamento, mas sim a tensão da esquiva por uma possível punição. 

É necessário atenção sobre como o comportamento será reforçado, por ser algo muito particular. Exemplo: Numa empresa quem tem boas ideias tem o privilégio de apresentá-las pessoalmente à diretoria. Ok. Mas nesse caso o funcionário que for tímido, jamais apresentará suas ideias por melhores que sejam, ou vai passá-las para um outro ganhar os méritos.

Fomos educados numa sociedade punitiva, onde o erro chama muito mais atenção do que o acerto, assim as pessoas ficam muito mais atentas às possíveis punições do que aos possíveis reforçadores. Mas isso não justifica que façamos o mesmo com nossos filhos. Elogio é bom e todo mundo gosta.

Exemplo: eu mesma muitas vezes não estou com vontade ou com inspiração para escrever aqui. Poderia deixar para lá... afinal não receberia nenhuma punição. Mas então imagino que se eu tivesse um chefe chato no meu pé, conseguiria arrumar tempo, inspiração, vontade, etc. Assim como se fosse para ganhar dinheiro (o reforçador arbitrário universal). E então lembro de como me faz bem escrever o que eu penso e sinto, lembro de como fico toda feliz quando leio algum comentário aqui, lembro da satisfação que tenho quando vejo a linha das estatísticas subindo... 

Ou seja, não é um ganho imediato, instantâneo, é a longo prazo. E isso as crianças não entendem, principalmente as menores de 5 anos e os adolescentes (em alguns casos). Para conseguir que a criança consiga o sucesso pleno é preciso que os passos dados sejam reconhecidos. Exemplo: Tirar a fralda. Usar o banheiro é algo complexo: 1- perceber se há vontade, 2- controlar os esfíncteres, 3- localizar o local adequado e a distância, 4- chegar até o banheiro ainda controlando a vontade, 5- tirar a roupa, 6- sentar-se (ou ficar em pé no caso do xixi dos meninos), 7- liberar a saída, 8- limpar-se (normalmente a última conquista a ser alcançada), 9- vestir-se, 10- dar descarga, 11- lavar as mãos. Fica tudo mais tranquilo para o pequeno aprendiz se ele vê cada pequena conquista ser comemorada, do que ter que fazer tudo isso para evitar que a mãe fique decepcionada, por que não conseguiu, ou mesmo chateada, ou zangada por que fez sujeira na roupa.

Não é tarefa fácil... se as vezes é difícil perceber o que reforça a mim mesma, imagine perceber o dos outros e pior ainda no caso de uma mãe que não é psicóloga e que tem filhos extremamente diferentes.

Mas vale o esforço, pois é muito melhor viver na expectativa das coisas boas que estão por vir, do que na eterna tensão de se esquivar das punições.

Gostaria muito de poder passar para vocês uma lista de comportamentos e reforçadores, mas isso não existe! Pois além das diferenças entre as pessoas, existe as mudanças que a pessoa sofre ao longo da vida... Então o que posso dizer é que observem seus filhos, vejam o que os fazem felizes, conversem, perguntem, compartilhem com eles toda conquista, mesmo que seja o campeonato de futebol de botão do condomínio, participem da vida dos seus filhos, só assim vocês vão conhecê-los melhor. E só assim eles vão ter 100% de confiança para compartilhar com você os medos, as dúvidas e os erros, pois ele saberá que encontrará apoio e conforto e não crítica e punição.

Esse assunto é bastante complexo, mas aos poucos vou explicando. Caso ainda não tenha lido e queira ler um pouco mais, recomendo o outro post sobre o assunto: Punir, só, não resolve 

Com calma e paciência as coisas vão dando certo... ;-)

Cristine Cabral

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