terça-feira, 12 de março de 2013

Olhando para dentro


Eu trabalho com a abordagem Análise do Comportamento, que tem uma visão focal e tem base pragmática. O que leva a algumas pessoas de outras áreas a dizer que é uma abordagem fria e que não leva em consideração os sentimentos. O que não é verdade. Tanto não é que em algumas questões começamos pela identificação do que é que é sentido pela pessoa. Muitas vezes o trabalho começa por aí.


E você sabe o que sente?

Você consegue saber a diferença entre saudade, solidão, melancolia, angústia e tristeza? Muita gente denomina tudo isso, ou uma parte disso, de depressão. Caso o profissional não tenha a devida atenção de detalhar o que seja exatamente o que a pessoa sente, esta pode sair com uma receita de um anti-depressivo. 

Pode ser que na verdade o que a pessoa está sentindo é uma saudade de uma realidade que se foi e que trazia sentimentos maravilhosos e que não estão mais presentes. É uma tristeza pelo que se foi, mas que não impede da pessoa reconhecer as coisas boas do presente, só precisa focar.

Claro que existem os casos reais de depressão e que precisam sim de medicação. O que chamo atenção é para um diagnóstico feito às pressas. Ou as vezes quem tem pressa é o cliente. Quer só um remédio que o ajude a dormir (ou acordar, ou para as duas coisas) para que continue sua rotina no "automático", que não tenha que "perder tempo" cuidando "dessas coisas".

A saudade em si, não necessariamente é algo ruim. Já cantava Luiz Gonzaga: 

"Se a gente lembra só por lembrar
O amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu"


Precisamos reconhecer o que sentimos para que possamos avaliar melhor o que provoca tais sentimentos e qual a melhor forma de agir em cada situação. Principalmente nas situações que trazem sentimentos desagradáveis que são bem mais marcantes. Biologicamente registramos com muito mais facilidade as situações ruins do que as boas.


Imagine que você diariamente, por anos e anos, passou por uma rua florida, cheirosa, com pessoas simpáticas, sempre com música alegre tocando. Só de lembrar (ou mesmo imaginar) isso trás uma sensação de bem estar. Agora o que aconteceria se você for assaltada? E se o assaltante tenha sido extremamente violento e ameaçador? Na próxima vez que chegar na esquina da dia rua, antes mesmo de visualizar qualquer coisa, que sensação virá?


Então, bastou um episódio desagradável para "apagar" inúmeros deles agradáveis.

E as vezes acontece do sentimento voltar de uma forma que numa visão superficial parece inexplicável. Digamos que no seu trabalho tenha as mesmas plantas que a rua em que foi assaltada e assim que chega ao trabalho volta a sensação de insegurança, angústia e medo. Seu vizinho sempre toca a mesma música que ouvia quando passava por aquela rua. Se esses sentimentos e emoções vierem de uma forma muito intensa, pode achar que está com uma Síndrome do Pânico, pois após o assalto vive sentindo medo em lugares que normalmente eram seguros e agradáveis, quando na verdade é um caso de Estresse pós-traumático.

E dá pra voltar a se sentir bem de novo na tal rua? Dá sim. Mas para isso tem que voltar a passar lá diariamente. Porém o que a maioria das pessoas faz é passar a evitar o que trás a sensação ruim e abre mão de tudo o que foi bom ali. 

O que descrevi aqui foi só uma ilustração, no dia a dia as coisas não são tão simples assim. Principalmente para as mulheres que ainda estão submetidas às variações hormonais. As vezes a "depressão" é só TPM, ou a sensação de melancolia e angústia é carência no período de ovulação. Por isso a importância de "olhar para dentro". 

Sabendo o que é e de onde vem fica mais fácil saber o que fazer e qual a melhor forma de fazer. E sabendo isso podemos também ensinar nossos filhos. Está nas nossas mãos criar uma geração mais equilibrada emocionalmente.

"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós."  Jean-Paul Sartre

Cristine Cabral

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