segunda-feira, 18 de março de 2013

Filho do Coração

Uma de nossas leitoras sugeriu que falássemos sobre adoção. E fez algumas questões, mas antes de responder especificamente, preferi falar um pouco para as pessoas que ainda estão pensando sobre o assunto. Na próxima semana falo sobre outras questões relacionadas ao assunto.

Primeiro gostaria de dizer que acho o gesto de adotar uma criança um ato nobre, mas que por isso deve ser tomado com muita cautela. Antes de dar entrada nos papeis para realizar uma adoção nos conformes da lei é essencial que saiba responder a seguinte questão: Por que você quer adotar?

Cuidado se a resposta for parecida com qualquer uma das seguintes:
- Para finalmente me sentir feliz.
- Para ter uma pessoa que sempre estará do meu lado.
- Para poder ter um filho e não "estragar" meu corpo.
- Por que toda mulher tem que ser mãe.


Não vou discorrer sobre cada uma, mas alerto que as duas primeiras podem ser referir também aos filhos "paridos". Ninguém merece nascer tendo como "carga" a função de fazer uma outra pessoa feliz. Não devemos atrelar a nossa felicidade a nada exterior a nos mesmas, nem filho, nem trabalho, nem cônjuge. Seja feliz com você mesma, depois você pode somar, dividir, multiplicar essa felicidade a de outras pessoas.


Outro alerta. Não pense na "maldição do sangue". Quando os filhos apresentam mau comportamento é comum ouvir mães dizerem: "Ele puxou isso do pai." E no caso dos adotados a "culpa" vai para o sangue. Certa vez assistir um realit show de educação infantil que um menino de 4 anos cresceu ouvindo que ele "tinha sangue ruim", ao ponto de ver na tv algo sobre transfusão de sangue e foi pedir para a mãe: "Vamos lá, mãe. Nesse lugar você vai poder trocar o meu sangue e vou ficar um menino bom." Fiquei de coração partido.

Não nego que existam predisposições genéticas, mas estas só se manifestam se encontram ambiente propício para isso.

Os comportamentos das crianças são reflexo da educação que recebem. Alguns obedecem regras e limites mais facilmente do que outras, mas cabe aos pais ter paciência e amor suficiente para impor limites, transmitir valores e ter comportamento adequado que seja uma boa referência. Sejam pais biológicos, ou adotados.

Cuidado com muitas expectativas. Toda criança é um ser único, que tem sua própria personalidade, tem o direto de escolher seu próprio caminho, não tem a obrigação de seguir o caminho que os pais traçaram, seja qual for a forma em que passou a pertencer a família. Uma mãe que gesta um filho, não tem como escolher a cor dos cabelos, dos olhos, da pele, com quem vai parecer e ela o ama seja como for, inclusive se tiver alguma deficiência física ou mental. Abra seu coração e, se for o caso, não vá "escolher" seu filho, permita-se ser escolhida. 

Agora se você concordou com tudo que disse, se sente madura e preparada para ser mãe, se tem amor e felicidade suficiente para você e uma (ou mais) pessoas... se chegou nesse ponto do texto pensando "ai como eu queria ser mãe, pena que não tenho dinheiro suficiente para isso." Peço que repense. Lembre-se que dar um lar a uma criança que não tem e dar tudo o que nem todo o dinheiro do mundo pode comprar: amor de mãe. Claro que dificuldades financeiras sempre complicam, mas se souber educar bem a sua criança, esta saberá reconhecer que mesmo que o material falte alguma coisa o lado sentimental, emocional, psicológico, social compensará e valerá mais do que uma vida em uma instituição, na qual mesmo que tenha sido muito feliz lá, aos 18 anos o vínculo é necessariamente quebrado.

Se for algo que pretende considerar, pense, pense muito e quando tiver certeza, pense mais uma vez. Pois imagine como se sente uma criança que é devolvida. Como é ser rejeitada mais de uma vez... 

Cristine Cabral

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